Friday, October 29, 2010

Ser pobre

"A elite olha para nós com desprezo e desdém. Somos os infelizes, os coitadinhos, e se ousamos reclamar, os chatos, os comunistas, os desocupados, os mal-resolvidos e os mal-amados. Afinal reclamar prá que? Você não tem nenhum conhecido que possa resolver o seu problema? Você não tem jogo de cintura? Não sabe criar contatos?

E reproduzimos entre nós a mesma atitude que a elite tem conosco. A solidariedade é para os momentos especiais, para as grandes comemorações e ou celebrações. No cotidiano, sabe como é, né, a gente faz o que pode. E vamos empurrando com a barriga a correria do dia a dia, da vidinha cinzenta e fria, do pagar as contas do mês, do viver sem dinheiro, da cultura do oi tudo bem? Tudo bem, e aí, tudo bem? Tudo. E apressamos o passo para que não vejam o arremedo de sorriso transformar o nosso rosto em uma caricatura de nós mesmos."

Luíza Alonso

1 comment:

Valdeci C. de Souza said...

Esta cultura do "Oi" realmente é interessante. Quando encontramos algum conhecido na rua perguntamos:

- E ai, tudo bem?

- Tudo, responde nosso amigo e ato contínuo repassa-nos a mesma pergunta.

E assim ficamos neste "tudo bem" e "você" e o diálogo mesmo não se estabelece. Aliás, na maioria das vezes, até esperamos que nosso amigo não venha com lamúrias e desande a contar-nos seus problemas já que os nossos também nos aguardam soluções imediatas. Um artificialismo retórico que mais afasta do que aproxima pessoas e neste "diálogo" o caminhar não para e nos despedidos com outra fórmula mágica para acabar qualquer possibilidade de contato:

- Passa lá em casa para conversarmos um pouco!

E assim seguimos nosso caminho deixando relacionamentos humanos pelo caminho... Triste, muito triste. Mas o que fazer?